Horóscopo pessoal: pequenas anotações sobre um luto

Julieta Al
2 min readJun 22, 2021

--

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2021.

Sob a lua no lacrau, começo a minha via combusta, a via dolorosa dos próximos sete dias. Júpiter deu hoje sua marcha ré e sai de casa daqui a pouco para rever os passos e, assim, poder andar para a frente de novo.

Júpiter volta à casa de Saturno, depois daquele encontro marcado, anunciado pelos vates desde que o tempo é tempo. A tristeza é senhora.

Há um ano exato, no meu pequeno universo particular, Júpiter recebeu uma flechada. Morreu e continuou vivo, errando no seu movimento previsível, sem entender bem como é isso de morrer em vida — ou de viver a morte.

Há um ano exato, no meu pequeno universo particular, um Marte flecheiro posicionado em um altar sagrado atirava una saeta (quién me presta una escalera para subir al madero para quitarle los clavos al Jesús el Nazareno?) diretamente ao flanco do Júpiter-cabra. Como um sacrifício ao deus Tempo. A lua, como sói, seguia o seu passo, peregrina. La saeta lá no alto; Lua-Antares encenando o mesmo teatro: Oh, la saeta, el cantar.

Um ano depois, volta Júpiter, pai de todos nós e do grande céu sobre as nossas cabeças, a refazer seus passos até encontrar com Marte, no ponto exato. Está escrito: para curar as feridas e voltar à vida, Júpiter precisa perdoar o seu algoz.

É preciso aprender a perdoar a morte, ainda que incompreensível.

--

--